Agostinho Salgado foi essencialmente um pintor naturalista que retratou inúmeras paisagens e cenas do quotidiano da época, sobretudo as paisagens leceiras.
Agostinho Salgado nasceu na freguesia de Leça da Palmeira a 21 de julho de 1905 e faleceu no mesmo local a 25 de abril de 1967. Diplomado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, foi professor do Ensino Técnico e conservador do Museu Nacional de Soares dos Reis a partir da década de 40.
Agostinho Salgado quis ser essencialmente, e antes de tudo mais, um artista.
Repetidamente o escreveu nas cerca de 400 cartas cujas cópias, feitas pelo espírito metódico do pintor, constituem hoje parte do seu espólio. A obra gráfica de Agostinho Salgado pode organizar-se em torno de dois tipos de registo: o linear, a partir da qual executa principalmente esquissos, e o que utiliza a mancha como recurso para o esboço.
Raramente se encontram desenhos onde o contorno seja rigoroso ou desenhos de detalhe. Contudo, é notável o modo como o traço de Agostinho Salgado se clarifica quando usa a mancha para resolver o desenho. Tudo flui naturalmente. Não há contorno, não há exatidão, tudo é evocação, porém, quase paradoxalmente, rigor.
O pintor não participou nem nos movimentos neorrealista nem modernista quando, pelos anos 30 e já na década de 40, atingia a maturidade existencial e pictórica, mantendo-se voluntariamente num percurso de isolamento e desenvolvimento individual solitário.
Apesar do referente real, a tendência pictórica de Agostinho Salgado de finais de 40 e anos 50 envolve-se, paulatinamente, num caudal de representações coloridas que raiam o abstracionismo. A ausência das imposições do rigor do desenho de contorno acaba por conferir à sua pintura, aquela que é a sua maior virtude: a liberdade cromática e formal. Neste sentido, as paisagens de Agostinho Salgado, especialmente as de finais de 40 e 50, assumem-se como uma pedrada no charco do naturalismo, propondo uma ponte com as correntes de vanguarda e estabelecendo uma saída para a pintura de cariz figurativo.